Parte I: Explicando o Antigo Testamento
1. Pentateuco
Conjunto de cinco livros: Genesis (origem), Êxodo (Saída e Libertação), Levítico (Leis), Números (Recenciamento) e Deuteronômio (Segunda Lei). Na Bíblia hebraica (Tanah) os judeus referem-se a esses livros como Torá – Lei.
2. Genesis
O primeiro livro da Bíblia porque nele encontramos as narrativas sobre as origens do mundo, da humanidade, do pecado e da história do povo de Deus a partir de Abraão. Ao que tudo indica ele foi escrito durante o exilio da Babilônia entre os anos 586 a 538 AC.
3. Pecado de Adão e Eva
Pecado da autossuficiência, do orgulho de desejarem ser como Deus, para poder dominar e explorar o seu semelhante. Adão e Eva desejaram o conhecimento do bem e do mal segundo critérios próprios, deixando de lado a sabedoria e a Lei de Deus (Gn 1, 28; 2, 16; 2,17; 3, 35).
4. Fruto
O fruto simboliza a eterna tentação do homem em não querer conhecer-se diante de Deus, mas querer comportar-se por si mesmo, escolher o próprio caminho. Comer do fruto (maça) é deixar Deus e seguir a si próprio.
5. Serpente
Significa a tentação, aquela inclinação que todos nós temos para o mal.
6. Torre de Babel
A narrativa explica a causa de tantas línguas existentes no mundo. Segundo o autor, a causa é fruto do orgulho do homem, o que faz que a humanidade perca a unidade. Babel significa confusão.
7. Maná
O maná era semelhante a semente do coentro e tinha aparência de resina. O povo se espalhava para juntá-lo e esmagava no moinho ou moía no pilão; depois cozinhava numa panela e fazia pão e bolos.
8. Êxodo
Sabemos que o povo de Deus (Israel), devido a uma grande fome, veio para o Egito quando José era vice-governador. Os hebreus da época (1500 AC) perceberam que estavam sendo explorados e escravizados. Deus ouve suas preces e envia Moisés como instrumento de libertação, o que aconteceu por volta de 1250 AC. A palavra êxodo significa saída. O livro descreve a saída da escravidão do Egito, a passagem pelo Mar Vermelho e também os dez Mandamentos dados por Deus através de Moisés no Monte Sinai. Descreve a caminhada do povo ao longo de 40 anos pelo deserto. Com isso o povo está caminhando com a proteção de Deus rumo à liberdade e à Terra Prometida.
9. Levítico (Leis)
Levítico provém do nome de Levi, a tribo de Israel que foi escolhida para exercer a função sacerdotal no meio do povo. O livro fala de sacrifícios, holocaustos (sacrifício no qual a vítima é queimada completamente) e oblações (oferecimento de alimentos, as primícias, ou seja, os primeiros frutos). Relata também a Lei do puro e do impuro: lei terrível que causou tantos sofrimentos no povo do Antigo Testamento, de modo mais intenso após Esdras e Neemias (pós-exílio da Babilônia). Puro era a pessoa sem pecado e que tinha condições de participar do culto e estar próxima de Deus. Impuro era a pessoa que devia ser excluída de participar do culto a Deus (tem mais sentido num ato físico do que condição moral). Para ser impuro bastava ingerir alguns alimentos, como por exemplo, carne de porco, ter lepra, tocar em mortos e em algumas atividades sexuais. Até Jesus critica esta lei: Não é o que entra na boca que torna o homem impuro, mas o que sai da boca. Pois é do coração que vem as más intenções, crimes, adultério, imoralidade, roubos, falsos testemunhas e calunias (Mt 15, 11, 19-20).
10. Números
O livro tem esse nome porque começa com um grande recenciamento do povo ou para descrever o período de 40 anos no deserto. O deserto foi como que um tempo necessário de sofrimentos, lutas, conflitos e de confiança em Deus que caminha com seu povo, a fim de construir uma nova sociedade de justiça e solidariedade. Javé tinha dito que em relação a primeira geração: Morrerão todos no deserto e não ficará nenhum, além de Caleb, filho de Jefoné, e Josué, filho de Num (Nn 26,25). Um povo novo e vida nova na Terra prometida. Um texto curioso cita as serpentes venenosas no deserto que picavam e muitos morriam. Javé pediu a Moisés: Faça uma serpente venenosa e coloque-a sobre um poste. Quem for mordido e olhar para ela ficará curado (Nn 21,8). Jesus se refere a este texto: Assim como Moisés levantou a serpente no deserto, do mesmo modo é preciso que o Filho do Homem seja levantado. Assim todo aquele que nesse acreditar, nele terá vida eterna (Jo 3, 14,-15). Outra citação é a benção litúrgica aos filhos de Israel: O Senhor disse a Moisés: Dize a Arão e seus filhos: Eis como abençoarei os filhos de Israel: O Senhor te abençoe e te guarde. O Senhor de mostre a sua face e conceda-te sua graça. O Senhor volta o seu rosto para ti e te dê a paz. E assim invocação o meu nome sobre os filhos de Israel e eu os abençoarei (Nm 6, 22-27).
11. Segunda Lei Deuteronômio
O texto gira em torno da aliança entre Israel e Deus, ou seja, a fidelidade do povo em relação aos preceitos (Leis) divinos. Lá encontramos a famosa profissão de fé ou oração que os judeus fazem até hoje: O “Shemá” (escutar e ouvir): Escuta Israel. O Senhor nosso Deus, é o Senhor que é um. Amaras o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com todo o teu ser, com todas as tuas forças. As palavras dos mandamentos que hoje te dou estarão presentes no teu coração; tu os repetiras a teus filhos. Tu lhes falarás deles quando estiveres em casa e quando andares pela estrada, quando estiveres deitado e quando estiveres de pé (Dt 6, 4-7).
12. Mudança de vida (Liberdade e conversão)
Hoje estou colocando diante de você a vida e a felicidade, a morte e a desgraça. Se obedeceres aos mandamentos de Javé seu Deus você viverá e se multiplicará. Todavia, se o seu coração se desviar e você não obedecer perecerão. Hoje eu lhe propus a vida ou a morte, a benção ou a maldição. Escolha, portanto, a vida (Dt 30, 15-20).
13. Livros Históricos
Narram a história do povo de Deus, desde a entrada na Terra Prometida (Josué) até quase a época de Jesus (Macabeus) por ocasião do domínio grego. Fica claro que a história de Israel depende da atitude que o povo toma em relação à aliança com Deus. Se o povo é fiel a aliança, Deus concede a benção que traduz no dom da terra e na prosperidade. Se o povo é infiel, atrai para si mesmo a maldição que se concretiza com fracasso e perda da terra, que no Antigo Testamento é igual a vida. Estes livros estão divididos em 3 grupos:
Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis: Reafirmam que a história de Israel depende da atitude que o povo toma na aliança com Deus. Se o povo é fiel Deus lhe concede a benção que se traduz no dom da terra e prosperidade.
1 e 2 Crônicas, Esdras e Neemias, 1 e 2 Macabeus: Procuram dar as normas básicas para a sobrevivência e organização do povo de Deus depois do exílio da Babilônia e da reconstrução do Templo em Jerusalém e a resistência dos Macabeus contra a dominação grega.
Rute, Tobias, Judite e Ester: Estes livros se apresentam como modelos de vivências da fé diante das dificuldades da vida, percebendo claramente a proteção de Deus.
Josué: Narra os fatos ocorridos entre 1230 a 1200 AC. O centro deste livro é a questão da posse da terra, vista na Bíblia como fonte de vida, e ao mesmo tempo, como dom de Deus. A terra pertente a Deus e é sagrada por produzir alimentos, gerar vida e ser local de moradia. Não foi pela força ou inteligência humana, muito menos pelo poder das armas que Israel conquista a Terra Prometida e sim, pela atuação direta de Deus em favor dos israelitas. O Povo de Israel deveria ter um novo sistema de ser e agir nesta nova terra: Nada de opressão, acúmulos, riquezas exorbitantes, escravizações, seria um sistema tribal, onde ninguém era dono da terra e sim Deus. O povo deveria partilhar a terra e seus bens produtivos, lutar pela justiça, igualdade e fraternidade.
Juízes: O livro recebeu este nome devido aos líderes responsáveis pela sociedade dos hebreus (israelitas) chamados de Juízes. Os acontecimentos compreendem da posse da Terra Prometida (Canaã – 1200 a 1020 AC), no período chamado de sistema tribal, até quando Israel optou pela monarquia. Os juízes eram encarregados pela política, economia, guerras e lutavam pela justiça e fidelidade a Javé. Dentre eles destacamos: Débora e Jael, Sansão, Jefté, Gedeão, Samuel e outros. As constantes guerras e o perigo da idolatria, ou seja, de adoração a outros deuses, principalmente a Baal, o deus cananeu da fertilidade, além dos costumes da “prostituição sagrada” (ritual que consiste em relações sexuais realizadas no contexto de um culto religioso) e de muitos outros fatores, fez com que Javé suscitasse vários juízes e juízas. Numa visão ampla, pode-se dizer que a geração revolucionária que conquistou duramente a terra, tinha morrido. Surge uma nova geração e começa o pecado (adoração a Baal), depois vem o castigo (Javé entrega seu povo ao poder de assaltantes de tal forma que os israelitas já não conseguiam resistir), a conversão (os madianitas reduziram Israel à miséria e então eles clamaram a Javé) e a libertação (Javé fez surgir juízes que libertam os israelitas dos assaltantes). Os juízes organizam o povo e o lideram na luta pela libertação. Conta a história de Sansão que salva Israel do poder dos filisteus. Quanto a Jefté ele faz uma promessa imprudente a Javé ao dizer: Se entregares os amonitas em meu poder, então, a primeira pessoa que sair para me receber será oferecida em holocausto. Esta pessoa foi sua única filha. Quanto a juíza Debora e a Jael, que mata Sísara, a história mostra como a força, a coragem e a esperteza femininas são importantes na vida de um povo.
Samuel: A história de Samuel (nome de Deus) descreve a transição entre o sistema tribal para o sistema da monarquia. Ana, sua mãe era estéril. Ela orou e chorou muito diante de Deus e fez um voto: se me deres um filho homem, eu o consagrarei ao Senhor. Elcana conheceu sua mulher Ana e ela concebeu Samuel. Samuel é chamado por Deus 3 vezes. Pensa que é Eli. Somente na quarta vez que ele responde: Fala Javé, pois o teu servo escuta. O livro fala também da Arca da Aliança que era levada a frente dos exércitos quanto saiam para lutar. Samuel alerta a todos do perigo de um sistema de monarquia onde o rei tem autoridade máxima, exige tributos, mão de obra escrava, desapropriação de terras, exército, exploração. Com os juízes o povo não era explorado. O primeiro rei foi Saul que detém todo o poder, guarda para si as riquezas, faz guerras, usa o poder para os próprios interesses e esquece-se dos pobres. Davi, depois da morte de Saul torna-se rei. Davi pecou, pois assassinou Urias, o heteu, para poder casar com a mulher dele. Em 2Sm, 7, 12-16 encontramos a profecia de Natã a respeito da permanência da linhagem davítica sobre o trono de Israel: A dinastia e a realeza dele permanecerão firmes para sempre diante de mim, e o seu trono será sólido para sempre (2Sm 7,16).
1 e 2 Reis: A maioria dos reis não foi fiel a Javé. Surgem nesta época os primeiros profetas que anunciam o projeto de Deus e denunciam as injustiças e defendem o povo da exploração dos reis (os primeiros reis: Saul, Davi e Salamão). O livro dos Reis se baseia em competições, lutas, sangue e morte. É a história do poder e da ambição, do poder pelo poder, da ganância e da corrupção fruto da vontade humana e não de Deus. Os livros dos Reis abrangem os acontecimentos que cobrem o período de mais de quatrocentos anos, desde o Rei Salomão (971 AC) até o Rei Jeconias (561 AC). Após a morte de Salomão (931 AC) sobe ao poder seu filho Roboão que deseja servir ao povo. A corte aconselha o contrário: aumentar a exploração para não perder a autoridade. Isto gera um conflito entre Roboão e Jeroboão. Este é proclamado Rei do Norte, cuja capital é Samaria, e Roboão é proclamado rei do Sul, cuja capital é Jerusalém. De todos os reis que governaram Israel somente Davi, Ezequias e Josias são considerados bons. Os demais não combateram a idolatria. O reino do Norte (Israel) caiu em 722 AC: o rei Salmanasar V da Assíria invadiu Israel, após o rei Oseias ter recusado a pagar tributo aos assírios e conquistou Israel). Após a queda do reino do Norte o reino do Sul (Judá) viveu anos de paz e caiu somente em 586 AC quando Jeconias era rei. Nabucodonosor foi rei da Babilônia e conquistou Judá. Está também no livro dos Reis a história do Profeta Elias e de Elizeu: o livro cita as passagens de Elias com a viúva de Sarepta quando não havia mais farinha e azeite. E Elias diz: a vasilha de farinha e a vasilha de azeite não ficaram vazias até o dia em que Javé mandar chuva sobre a terra (1Rz 17,14). Narra também a ressurreição do menino conforme pedido de Elias a Javé (1Rs 17, 17-24). O livro cita também a cura de Naamã pelo profeta Elizeu (sucessor de Elias): Naamã mergulha 7 vezes no rio Jordão e fica curado da lepra (2Rs 5).
Resumo da vida do profeta Elias: Elias, cujo nome significa “Jeová é Deus” foi chamado por Deus para o ministério profético, em um dos piores períodos da história de Israel. Elias profetizou em um período marcado por crise, fome, miséria, corrupção e apostasia. Mas, em meio à crise moral, social e espiritual. Deus pôde contar com a coragem e a determinação de Elias, para ser seu porta-voz. Elias foi profeta do Reino do Norte, nos reinados do Rei Acabe e do seu filho Acazias. Ele desafiou o povo a fazer uma escolha definitiva entre seguir a Deus ou a Baal. Os israelitas achavam que podiam adorar o Deus verdadeiro e ao mesmo tempo adorar a Baal. Eles tinham o coração dividido e por esta razão queriam servir a dois senhores. Jesus, durante o seu ministério terreno advertiu contra essa atitude fatal: “Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há de odiar um e amar o outro ou se dedicará a um e desprezará o outro” (Mt 6:24).
Quem era Elias: O mais famoso e dramático dos profetas de Israel (874 AC). Foi contemporâneo de Acabe, Jezabel, Acazias, Obadias, Jeú e Aazael. Predisse o início e o fim de uma seca de três anos e meio (IRs 17.1; 18.44). Fugiu da presença de Acabe e foi sustentado pelos corvos e por uma pobre viúva (IRs 17.1-6; 8-16). Foi usado por Deus para ressuscitar uma criança (IRs 17.22). Desafiou os sacerdotes de Baal no Monte Carmelo: dois bezerros foram oferecidos em holocausto; o fogo deveria ser acesso pelo deus Baal e por Javé. Os sacerdotes de Baal não conseguiram que seu deus acendesse o fogo. Somente Javé enviou fogo do céu. O povo bradou: Só o Senhor é Deus! Só o Senhor é Deus! E Elias lhes disse: Lançai mão dos sacerdotes de Baal, que nenhum deles escape. E lançaram mão deles; e Elias os fez descer ao ribeiro de Quisom, e ali os matou (IRs 18.22-45). Ameaçado de morte, fugiu com medo de Jezabel, esposa do rei Acabe, e desejou a morte (IRs 19.4). Caminhou 40 dias 40 noites, após ser alimentado com pão e água, trazidos por um anjo (IRs 19.8). Ao chegar a Horebe, esconde-se em uma caverna, onde tem um encontro com Deus (IRs 19.12). Unge Elizeu como seu sucessor (IRs 19.15,21). Foi levado ao céu em um redemoinho (IIRs 2.11). A história de Elias está registrada em IRs 17.1 até IIRs 2.11. Elias era natural de Tisbe.
Período de idolatria: O rei Acabe, que era mau aos olhos do Senhor, mais do que todos os que foram antes dele (IRs 16.30,31), destaca-se nas Escrituras como um rei idólatra, pois ele andou nos caminhos de Jeroboão (IRs 16.31); serviu a Baal e o adorou (IRs 16.31); conduzindo toda a nação à idolatria. Casou-se com Jezabel, filha de Etbaal, rei dos sidônios; casamento este, jamais aprovado por Deus. Tudo isto fez Israel mergulhar no mais profundo paganismo, sem nenhuma pretensão de preservar o culto a Jeová, tornando-se uma nação idólatra e pagã, como as demais nações. Quando Acabe, influenciado por sua esposa Jezabel, substituiu o culto a Jeová pela adoração à Baal (IRs 16.31-33), Elias apareceu repentinamente perante o rei para anunciar a ausência de chuva e orvalho sobre a terra (IRs 17.1). Como isso provocou seca, fome e miséria. As Escrituras dizem que “… a fome era extrema em Samaria” (IRs 18.2). Isto fez com que Acabe se irasse ainda mais com Elias, pois achava que ele era o culpado daquela calamidade.
Principais virtudes do caráter de Elias:
- Elias aprendeu a confiar em Deus: Profetizar no tempo de Elias não era uma tarefa fácil. Era colocar a sua própria vida em risco (IRs 18.4). E Elias foi chamado para profetizar exatamente contra aqueles que tinham o poder nas mãos: o rei Acabe e sua ímpia esposa, Jezabel. Mas Elias não vacilou: Profetizou a falta de chuva e de orvalho (IRs 17.1); combateu o pecado de Acabe, chamando-o de perturbador de Israel (IRs 18.18); desafiou os profetas de Baal (IRs 18.22-40) e predisse a morte do rei Acabe e de sua esposa Jezabel (IRs 22.17-24). Somente uma confiança inabalável em Deus poderia levar um homem a profetizar naqueles dias.
- Elias aprendeu a depender de Deus: Ao contrário do que muita gente pensa, depender de Deus não é uma tarefa fácil. É preciso ter fé. A trajetória de Elias nos ensina isto: ora bebendo água de um ribeiro e se alimentando de pão e carne trazidos pelos corvos (IRs 17.1-6); ora sendo sustentado por uma pobre viúva (IRs 17.8-16); ora alimentando-se de pão e água trazidos por um anjo (IRs 19.5-7). Com certeza, a confiança de Elias não estava depositada nos corvos, nem na viúva, nem mesmo no anjo, e sim, no Jeová, o Senhor que provê.
- Elias aprendeu a se fortalecer em Deus: Quando Elias foi ameaçado por Jezabel, após a morte dos profetas de Baal, perdeu o ânimo e desejou a morte (IRs 19.4). No entanto, Deus envia um anjo para lhe dar pão e água (IRs 19.5-7). Com a força daquela comida, Elias caminhou quarenta dias e quarenta noites até chegar à Horebe (IRs 19.8). Ao chegar a Horebe, ele esconde-se em uma caverna, onde tem um encontro com Deus, que lhe fala numa voz mansa e delicada (IRs 19.12). Suas forças, então, são renovadas, fazendo com que ele saísse daquela caverna e executasse os propósitos divinos (IRs 19.15-21).
- Elias aprendeu a ter intimidade com Deus: O ministério de Elias não foi marcado apenas por profecias, mas também, por muitos milagres, tais como: multiplicação de azeite e farinha (IRs 17.16); ressurreição (IRs 17.22); fogo no altar (IRs 18.16-46); morte dos soldados do rei Acazias (IIRs 1.9-14); divisão do rio Jordão (IIRs 2.8). Todos estes milagres demonstram claramente que Elias era um homem que vivia em íntima comunhão com Deus. A maior prova disto é que, semelhante a Enoque, Deus o tomou para si (IIRs 2.11,12).
Quem foi Enoque? Enoque é a sétima geração desde Adão. Adão viveu 930 anos, Sete 912, Enos 905, Cainã 910, Maalelel 895, Jarede 962 e Enoque 365 anos. Enoque teve a vida mais curta, mas foi o melhor de todos. Numa sociedade incrivelmente perversa, Enoque andou com Deus. Deus para si o tomou 69 anos antes de Noé nascer. Foi transladado sem experimentar a morte. Só outro em toda história teve a mesma sorte, foi Elias. Enoque e Elias talvez tenham sido designados por Deus para ser uma espécie de figura antecipada do arrebatamento dos salvos. Enoque era um homem de fé e foi esta a qualidade que fez dele o melhor homem dos primeiros dez séculos de história. Pela fé Enoque andou com Deus; e Deus para si o tomou. A fé é indispensável e, é verdadeira a partir de uma experiência com Deus. Em Gen.5:24 lemos: “E andou Enoque com Deus; e não se viu mais, porquanto Deus para si o tomou.” A condição para estar com Deus é uma vida limpa, isenta do pecado: Foi o que aconteceu com Enoque.
Conclusão: O ministério de Elias foi marcado por profecias, milagres, desafios e muitas experiências com Deus. Porém, o acontecimento mais notável na vida do profeta Elias não foi profetizar a falta de chuva, nem desafiar os profetas de Baal, nem ressuscitar o filho da viúva. Sem dúvidas, o fato mais notável foi quando lhe apareceram cavalos e carros de fogo e, em um redemoinho, ele foi levado ao céu (IIRs 2.11).
1 e 2 Crônicas: Traduz como fatos do dia ou fatos da história. Foram escritos por volta de 300 a 200 AC. Muitos acham que este livro é desnecessário pois muitas coisas são repetições dos livros de Samuel e dos Reis. A história do Reino do Norte não é contata, pois os samaritanos eram considerados impuros e inimigos dos judeus (os samaritanos são descendentes dos antigos israelitas que habitaram a histórica província de Samaria). O autor viveu no período do domínio grego em 333 AC. Quando o povo corria o risco de perder sua identidade e sua cultura. O autor dedica-se a reforma religiosa, moral e exortam a todos à fidelidade ao templo e ao culto do Senhor. Os reis agora eram gregos, antes eram babilônicos e persas. O povo estava desanimado e descontente com os reis e com a religião.
Esdras e Neemias (base para o Judaísmo): O centro da preocupação destes livros foi a reconstrução do templo, da cidade de Jerusalém e o reagrupamento do povo que estava disperso e completamente alheio as suas tradições (Ciro, Rei da Pérsia, autoriza o retorno do povo de Israel para Jerusalém – 515 ac). Para que o povo pudesse manter sua identidade era preciso uma rigorosa observância da lei; tão rigorosa que se esqueceram da misericórdia de Deus. As bases da reforma de Esdras e Neemias, juntamente com a instituição da sinagoga, da atividade dos doutores da Lei e do Sinédrio são os alicerces do Judaísmo. Na festa das Tendas a Lei de Deus, pela primeira vez foi lida pelo sacerdote Esdras em Assembleia (Ne 8,9).
Rute: a História de Rute (estrangeira de Moab) começa com a descrição da opressão e pobreza em que vive o povo. Rute e Noemi são viúvas dos filhos de Emelec. Rute luta a fim de ter um filho, casa e pão e, principalmente vida. Isto foi possível porque ela conhecia um parente Booz que tinha o direito de resgate (Quando alguém por motivo de pobreza era obrigado a vender sua propriedade ou se tornar escravo, então seu parente mais próximo tinha obrigação de resgatar a terra ou a vida, isto comprando de volta a terra ou pagando a dívida do seu irmão). Como Booz era seu parente Rute permite que ele se deite com ela porque tinha o direito de resgate. Ele aceita e daí nasce Obed (servo). Este filho nasce sob a Lei do Levirato (quando um homem casado morre, sem deixar filho, o irmão ou parente do falecido deveria casar-se com a viúva e o filho seria considerado filho não dele, mas do irmão falecido). Rute une as duas leis pois ter pão e terra, sem filho também não era a solução.
Tobias: A essência do livro gira em torno da manutenção da identidade judaica em terra estrangeira (chama-se Diáspora ou Dispersão o fato de muitos judeus viverem fora da Palestina após a volta do exílio da Babilônia), da fidelidade do justo aos ensinamentos de Deus. Dentre as passagens temos uma em destaque: Meu filho, lembre-se do Senhor todos os dias. Não peque e nem transgrida seus mandamentos. Pratique a justiça todos os dias da vida, e jamais ande pelos caminhos da injustiça. Dê esmolas daquilo que você possui, e não seja mesquinho. Se você vê um pobre, não desvie o rosto, e Deus não afastará seu rosto de você. Escolha uma esposa que pertença à família de seus antepassados. De fato, o orgulho é causa de ruína e muita inquietação. A preguiça traz pobreza e miséria, porque a preguiça é mãe da fome. Não faça para ninguém aquilo que você não gosta que façam para você. Reparta seu pão com quem tem fome e seus roupas com quem está nu. Procure aconselhar-se com pessoas sensatas e bendiga ao Senhor Deus em todas as circunstâncias. (Tb 4, 5-19). Rafael diz a Tobias que seu parente Raquel tinha uma filha de nome Sara, a qual era viúva de sete maridos. Tobias pede a moça em casamento porem na noite de núpcias permanecem em oração pedindo a Deus que lhes conceda misericórdia e salvação. Assim procedendo Sara não fica viúva e eles vivem em paz com as bênçãos de Deus.
Judite: A mensagem do livro é clara o povo tem de cortar a cabeça do opressor para não ser oprimido, explorado e escravizado. O livro mostra as armas e a força do sistema opressor (Rei selêucida Antioco IV Epífanes (Assíria); mostra o poder de Deus, a força e a coragem de Judite que, para garantir a vida e liberdade a seu povo, embriaga e corta a cabeça do comandante Holofernes. Com isto Israel derrota os assírios.
Ester: O livro gira em torno dos banquetes que o rei Assuero (Pérsia) dá a seus oficiais que governam as províncias do seu reino. A Rainha Vaste não quis se exibir diante dos oficiais. O rei destitui a rainha e busca novas moças no reino. Ester foi escolhida e o rei se apaixona por ela. A rainha Ester fica sabendo que um alto funcionário ordenará exterminar todos os judeus e saquear seus bens. Ester faz o seguinte pedido ao rei: Se o senhor quiser fazer-me um favor, se lhe parecer bem, o meu pedido é que me conceda a vida e o meu desejo é a vida do meu povo (Es 7, 2-3). O rei atende ao seu pedido e a tristeza de seu povo se transformou em alegria e o luto em festa.
14. Livros Sapienciais (sabedoria do povo)
Jó, Provérbios, Eclesiastes, Sabedoria, Eclesiástico, Salmos (orações do Povo) e Cântico dos Cânticos (poemas de Amor). Estes livros se referem às situações do dia-a-dia, das dificuldades, das doenças, das conquistas, do amor, da amizade, da saúde, do trabalho e de muitos outros assuntos.
15. Livro de Jó
Uma história belíssima que mostra o relacionamento de Deus com o homem. Jó questiona a fé, a religião, as injustiças. Jó tinha tudo: honestidade, temor de Deus, família, riqueza, filhos. Perdeu tudo inclusive ficou doente. O eixo central é o dogma da retribuição: Deus retribui o bem com o bem e o mal com o mal. Tal concepção não é correta pois a verdadeira religião é mistério de fé e graça: o homem se entrega livremente, gratuitamente a Deus; e Deus, mistério insondável, volta-se para o homem gratuitamente, a fim de estabelecer com ele uma comunhão que o leva para a vida. Jesus também sofreu, morreu e ressuscitou provando que o nosso Deus é o Deus da vida.
16. Salmos
Os Salmos são orações que manifestam a fé no Deus vivo e libertador, que age em favor dos oprimidos. Os Salmos estão divididos em 4 classificações: de libertação, de instrução, de louvor e de celebração da vida. Formam um conjunto de 150 orações. Os salmos são orações que manifestam a fé no Deus vivo e libertador que age em favor dos oprimidos. São, portanto expressão dos anseios de um povo que encontra razões para viver e lutar, mesmo quando tudo parece estar perdido.
17. Provérbios
Provérbios significa semelhança, comparação. A finalidade do livro é conhecer a sabedora do povo e de outros povos e seus ditados ou sentenças populares. Muitos dizem que foi o Rei Salomão que os escreveu, mas não é verdade, pode até ter escrito alguns. Veja um dos provérbios: Deus detesta seis coisas e a sétima ela abomina: olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, coração que trama planos perversos, pés que correm para a maldade, testemunha falsa que profere mentiras, e aquele que semeia discórdia entre os irmãos (Pr 6, 16-19).
18. Eclesiastes
Não há um autor específico. Ele se denomina Coélet que é rei de Jerusalém e muito sábio. O livro fala que a vida é passageira. Foi escrito por volta de 250 AC onde a não existia a noção de ressurreição e de outra vida, ou seja: morreu, acabou. É um livro pessimista que faz um alerta ao povo para desfrutar de seu trabalho e procurar ser feliz enquanto é tempo. O livro apresenta os passos concretos para alcançar a felicidade, ironiza a sabedoria oficial e joga por terra os fundamentos da teologia de retribuição. É um convite para viver a vida com intensidade, realizando a partilha na gratuidade.
19. Cântico dos Cânticos
Um livro desconcertante, lindo e maravilhoso. O amor, a paixão, o sexo e os elogios à amada e ao amado são a razão de ser deste livro. Dos 117 versículos 60, são vozes da amada, 37 do amado e 20 do narrador. Este livro não foi escrito por Salomão. Possivelmente esses cânticos eram cantados em festa de casamento de pessoas importantes.
20. Sabedoria
Na Bíblia sabedoria é a capacidade de perceber profundamente a realidade e as situações da vida e viver de acordo com o projeto e a vontade de Deus. Sabedoria é viver de acordo com a vontade de Deus. O princípio da Sabedoria é o desejo de instrução, e a preocupação pela instrução é o amor. O Amor é a observância das Leis da Sabedoria. A observância das Leis é a garantia da imortalidade que faz com que a pessoa fique perto de Deus. Portando, o desejo pela sabedoria conduz ao reino (Sb 6, 17-20).
21. Eclesiástico
O nome vem do nome “Ekklesia” que significa Igreja. A Igreja o usava por ser cheio de conselhos referentes à sabedoria, à lei, à família e outros assuntos (180 ac). Em Ec 50, 37-29 lemos: Feliz o homem que medita estas coisas, pois quem as coloca no coração se tornará sábio. Se as colocar em prática será forte em tudo porque a luz do Senhor é o seu caminho. Em Ec 2,1-6 lemos: Meu filho, se você se apresenta para servir o Senhor, prepare-se para a provação. Tenha coração reto, seja constante e não desanime nas dificuldades. Una-se ao Senhor e não se separe. Aceite tudo o que lhe acontecer e seja paciente nas dificuldades. Confie no Senhor, e ele o ajudará, seja reto em seu caminho e espere no Senhor.
22. Livros Proféticos
Os Profetas são as pessoas que falam em nome de Deus. Sua missão é anunciar a Palavra de Deus e denunciar as injustiças e o pecado. Ele analisa o presente e mostra o projeto de Deus, denuncia tudo que não está de acordo com a vontade de Deus e que leva a morte.
Profetas maiores: Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel.
Profetas menores: Amós (projeta da justiça social), Joel, Miqueias, Sofonias e outros.
Hoje todos os cristãos são chamados a serem profetas denunciando as injustiças e lutando para que o Reino de Deus seja realidade no meio de nós.
23. Isaias
Isaias é o profeta mais citado no Novo Testamento. Nasceu por volta do 760 AC no período de reinado de Ozias, Joatão e Ezequias, reis de Judá. Judá como Israel (Reino do Norte) estavam bem política e economicamente, mas, como sempre havia muitas injustiças, corrupção e exploração dos pobres. Com a expansão do Império Assírio (745 a 705 ac) Israel foi destruída e Judá permaneceu pagamento altíssimos impostos a Assíria. Isaias afirma que ainda há esperança: Se vocês estiverem dispostos a obedecer, comerão os frutos da terra, mas se vocês se recusarem e se revoltam, serão devorados pela espada (Is 1, 20). Em 586 AC o país de Judá foi destruído, quando a Babilônia o invadiu e exilou muitos judeus. O livro de Isaias narra acontecimentos de mais de 400 anos. Isto se explica porque temos três Isaias a saber:
Primeiro Isaias (1 a 39): Escrito pelo profeta Isaias por volta de 740 a 701 ac. A preocupação central é mostrar a santidade de Deus, a nação pode ser salva, mas tem de ser fiel a Deus. Isaias diz: Parem de fazer o mal, aprendam a fazer o bem (Is 1,15,17);
Segundo Isaias (40 a 55): escrito por um profeta anônimo durante o exilio na Babilônia (586 a 538 ac). Escreve uma mensagem de esperança e consolação aos exilados (Is 43, 1-4);
Terceiro Isaias: O povo voltou para Jerusalém, porém continua explorado e massacrado pelos governantes judeus e pelo Império Persa (520 a 400 ac). Isaias denuncia os abusos do poder e convoca a todos para lutar pela justiça, pelo amor e criar um novo céu e uma nova terra (Is 65, 17).
Algumas profecias: Pois saibam que Javé lhes dará um sinal: A jovem concebeu e dará a luz um filho e o chamará pelo nome de Emanuel (Is 7,14); O povo que andava nas trevas viu uma grande luz, e uma luz brilhou para os que habitavam nas trevas: nasceu um menino …. Deus Forte, Pai para sempre, Príncipe da paz (Is 9.1.5); O povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. Em vão me prestam culto, pois os que ensinam são apenas mandamentos humanos (Mt 15, 7-9); Cântico do servo sofredor: Ele é o meu escolhido, nele tenho o meu agrado (Is 42, 1-9); Foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca…. Foi preso, julgado injustamente, e quem se preocupou com a vida dele?… Ele carregou os pecados de muitos e intercedeu pelos pecadores (Is 52, 13 e Is 53, 12); Uma voz que grita: abram no deserto um caminho para Javé, na região da terra seca, aplainem uma estrada para o nosso Deus (Is 40,3); O Jejum que eu quero é este: acabar com as prisões injustas, desfazer as correntes do jugo, por em liberdade os oprimidos e despedaçar qualquer tipo de jugo, repartir a comida com quem passa fome, hospedar em sua casa os pobres sem abrigo, vestir aquele que se encontra nu, e não se fechar a sua própria gente (Is 58, 6-70); O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu. Ele me enviou para dar a boa notícia aos pobres, para curar os corações feridos, para proclamar a libertação dos escravos e por em liberdade os prisioneiros, para promulgar um ano de graça (Is 61, 1).
24. Jeremias
Jeremias é da tribo de Benjamim, sacerdote que viveu entre 637 a 586 ac. “Antes de formar você no ventre de sua e mãe, eu o conheci, antes que você fosse dado à luz, eu o consagrei para fazer de você profeta das nações…. Não tenha medo, pois eu estou com você para protegê-lo” (Jr 1,5,8).
Jeremias viveu numa época difícil no sentido político e econômico. Com o enfraquecimento do império da Assíria, o Rei Josias (Judá) procura anexar Israel que se recusava a pagar impostos. O rei fez uma reforma religiosa e na guerra de Miguido foi morto pelo Faraó em 609 ac. Com isso Egito e Babilônia começam a disputar Judá. Jeremias adverte os israelitas que os babilônios invadirão o país. Por causa disto é aprisionado como traidor; mesmo assim ele aponta os responsáveis como pessoas importantes que detém o poder em Jerusalém. Em 597 ac aconteceu a primeira deportação quando Nabucodonosor destrói Jerusalém, queima o Templo, leva as pessoas importantes como prisioneiros. Jeremias é o que profetiza contra as nações e lamenta que o povo de Israel não siga os preceitos de Deus.
Alguns oráculos: Mas semelhante à mulher que trai o seu marido, assim me traiu a casa de Israel. Voltem, filhos rebeldes e eu os curarei de sua rebeldia (Jr 3, 20-22); Se endireitarem seus caminhos, se começarem a praticar o direito com seu próximo, se não derramarem sangue inocente neste tempo e não correram atrás dos deuses estrangeiros, então eu continuarei morando com vocês neste lugar (Jr 7, 5-7); Como barro nas mãos do oleiro, assim estão vocês em minhas mãos, ó casa de Israel (Jr 18,6); Vejam que vão chegar dias em que eu farei brotar para Davi um broto justo. Ele reinará como verdadeiro rei e será sábio, pondo em prática o direito e a justiça no país. Em seus dias Judá estará a salvo e Israel vivera em paz, a ele darão o nome de Javé, nossa justiça (Jr 25, 5-6); Quando se completarem 70 anos na Babilônia eu olharei para vocês e cumprirei minhas promessas, trazendo-os de volta para casa (Jr 29, 10-14).
Apesar de todas as dificuldades que enfrentamos no mundo de hoje dominado pelo poder, corrupção e violência, devemos ser profetas para que outros convertam a Deus através de nossa vivência de cristãos.
25. Lamentações
Este livro não foi escrito por Jeremias e sim por um anônimo que teria vivido em Israel, durante o exílio da Babilônia (586 a 538 ac). O livro mostra a angústia, o desespero e o sofrimento do povo que ficou em Israel. No livro há cinco lamentações: dor, miséria, fome, exílio e falta de esperança. São chamadas de cantos fúnebres ou poemas de dor. Ai! Como está solitária a capital do povo. A primeira entre as nações está como viúva. Quem era líder entre os povos, agora paga tributo. Banhada em lágrima a face, passa a noite chorando. De todos os seus amantes não há nenhum que a console. Todos os seus aliados a traíram, tornando-se para ela inimigos (Lm 1, 1-2). O canto de Verônica na Paixão de Cristo é um trecho das Lamentações: Vocês todos que passam pelo caminho, olhem e prestem atenção haverá dor semelhante à minha dor (Lm 1,12); O amor de Javé não acaba jamais e sua compaixão não tem fim. Pelo contrário, removam-se a cada manha: como é grande a tua fidelidade. Digo a mim mesmo: Javé é minha herança. Por isso nele espero (Lm 3, 22-24).
26. Baruc
Baruc não foi secretário de Jeremias. Baruc significa abençoado. O livro tem o caráter sapiência para exortar o povo de Israel a se manter firme na fé, na cultura e não deixar ser levado pelos costumes de outros povos, principalmente os gregos. O dogma da retribuição está bem presente neste livro, ou seja, se o povo está na pior, foi exilado, é porque pecou contra Deus e desobedeceu aos seus mandamentos, mas se o povo se converter e mudar de vida, continua ainda a promessa: Se você estivesse andando nos caminhos de Deus, teria sempre vivido em paz. Aprenda agora onde está a prudência, a forma e a inteligência, para compreender onde está a vida longa, onde está a luz dos olhos e a paz (Ba 3, 13-14). Coragem, meus filhos, clamem a Deus. Ele mesmo que os provou se lembrará de vocês…. Aquele que lhes enviou tanta desgraça lhes mandará também a alegria eterna da salvação (Ba 4, 27-29). Jerusalém tire a roupa de luto e de aflição e vista para sempre o esplendor da glória que vem de Deus. Vista o manto da justiça de Deus e ponha na cabeça a coroa gloriosa do Eterno, pois Deus mostrará o esplendor de você a todos os que vivem debaixo do céu. Deus dará para você um nome para sempre: Paz e justiça e Gloria da Piedade (Ba 5, 1-4).
27. Ezequiel
Ezequiel significa Deus é minha fortaleza. Viveu na época do exilio da Babilônia, num período de muito sofrimento, escravidão, tristeza e, ao mesmo tempo, de fé e de esperança. Era sacerdote e recebeu a missão de profeta. Exerceu sua atividade entre 593 até 571 ac. É o profeta da esperança que procura conformar o povo. Ezequiel insiste que Deus está junto do povo que deve converter: Darei para vocês um coração novo e colocarei um Espírito novo dentro de voes; tirarei de vocês o coração de pedra e lhes darei um coração de carne. (Ez 23,26). Ezequiel deixa claro que só Deus é o Pastor e Ele mesmo cuidará com carinho e amor de suas ovelhas: o povo (Ez 34). Deus faz a sua parte, cabe agora ao povo mudar de vida, praticar o bem, obedecer aos mandamentos de Deus e, após o exílio, construir um mundo melhor com mais amor, liberdade e justiça. Deus quer que o ser humano tenha liberdade, amor e seja feliz: O justo receberá a justiça que merece e o injusto pagará por sua injustiça. Se o injusto se arrepende de todos os erros que praticou e passa a guardar meus estatutos e a praticar o direito e a justiça, então ele permanecerá vivo, não morrerá. Tudo de mau que ele praticou não será mais lembrado, e ele permanecerá vivo, por causa da justiça que praticou (Ez 18, 20-23). Ezequiel compara Samaria (Oola) e Jerusalém (Ooliba) com duas prostitutas pois o povo destas cidades cometeu idolatria adorando outros deuses: Marduk, Baal, Bezerro de Ouro. Deus é o esposo e o povo sua esposa. Deus não castiga ninguém e quer a conversão e vida para todos (Ez 18, 19-32). Em Ez 34, 15-16 lemos: Eu mesmo conduzirei as minhas ovelhas para o pasto e as farei descansar. Procurarei aquela que se perder, trarei de volta aquela que se desgarrar, curarei a que machucar, fortalecerei a que estiver fraca. No Salmo 22 podemos perceber este trecho ou seja: O Senhor e meu Pastor nada me faltará. Jesus afirma: Eu sou o Bom Pastor: conheço minhas ovelhas e elas me conhecer (Jo 10,14).
28. Daniel
Daniel significa Deus julga ou Deus é meu juiz. Este livro é diferente pois usa uma linguagem apocalíptica, com muitos símbolos, que significa tirar o véu, revelar. Muitas vezes a revelação é acerca do futuro, mas que desperta para uma vivência da Lei de Deus no presente. O autor viveu no período do Rei Antioco IV Epífanes, na época da revolta dos Macabeus que teve início em 167 AC. O livro descreve fatos ocorridos por volta do século VI AC, na época de Nabucodonosor, rei da Babilônica, domina Jerusalém e exilia muitos, inclusive Daniel, Ananias, Misael e Azaria. A exemplo do livro de Judite incentiva o povo a lutar e resistir. Daniel, para não ser reconhecido e morto, utiliza linguagem simbólica, sonhos, visões, mostrando que Deus é o Senhor da História e consegue unir o povo em torno do ideal de liberdade, de vida e de manutenção da identidade e cultura do povo judeu, que estava ameaçada pelo Decreto do Rei de que os povos dominados seguissem os costumes dos gregos. O livro mostra que os poderosos do mundo são um “nada” diante do poder de Deus. Daniel, Ananias, Misael e Azaria trabalham para o rei Nabucodonosor, mas seus nomes são alterados para: Baltassar, Sidrac, Misac, Abdênago, respectivamente. O rei tem um sonho e somente Daniel consegue interpretá-lo. O sonho era de uma grande estátua, em que a cabeça era de ouro, o peito e os braços de prata, a barriga e coxas de bronze, os pés de ferro e parte de barro. Uma pedra arremessada destrói esta estátua. A interpretação do sonho é: ouro significa o Império Babilônico, a prata o Império Medo; o bronze o Império Persa e o ferro/barro o Império Grego. A pedra arremessada é o Reino de Deus que vai destruir toda a estátua e os impérios. Com a interpretação o rei reconhece que “o Deus de vocês é o Deus dos deuses, o Senhor dos reis, ele revela mistérios e segredos” (Dn 2,47).
A questão da idolatria é comentada no livro pois o rei mandou construir uma estátua de outro e pediu a todos que a adorassem. Sidrac, Misac, Abdênago se recusam e são jogados na fornalha, porém não morrem. Depois, o rei Dario decreta que todos rezassem para o outro deus. Daniel se recusa e é colocado na cova com os leões e não é comido. Quando o rei percebe que ele está vivo publica um decreto: Todos do reino são obrigados a temer e respeitar o Deus de Daniel pois ele é o Deus Vivo, que permanece para sempre e seu reino jamais será destruído (Dn 6, 27-28).
Um outro trecho chama atenção: Em minhas visões noturnas vi entre as nuvens do céu alguém como um filho de homem. Chegou perto do Ancião e foi levado à sua presença. Foi lhe dado poder, glória e reino, e todos os povos, nações e línguas o serviram. O seu poder é um poder eterno, que nunca lhe será tirado. E o seu reino jamais será destruído (Dn 7, 13-14). O mistério do filho do homem é uma personificação do povo fiel, que recebe de Deus o reino que durará para sempre. O Novo Testamento vê Jesus nesta passagem, o instaurador do Reino de Deus. Diversas vezes Jesus atribui a si este título: Filho do Homem (Mt 9,6; 11,19; 12,8; 25.31).
Em 11,40 e 12,4 lemos: O autor descortina o futuro onde o perseguidor será destruído e as forças do mal serão vencidas. Na luta final, intervém Miguel, o anjo que protege o povo escolhido: são forças celestes unindo-se aos fiéis, que na terra lutam pela causa de Deus. A grande angústia inaugura o tempo da salvação: também os mártires que resistiram até o fim participarão da vitória final através da ressurreição, enquanto os infiéis se perderão definitivamente. Este é um dos trechos mais claros sobre a ressurreição no Antigo Testamento. Literalmente o texto diz: então o se povo será salvo, todos os que estiverem inscritos no livro. Muitos dos que dormem no pó despertarão: uns para a vida eterna, outros para a vergonha e a infâmia eternas. Fica claro que na época de Daniel já se tinha noção de que haveria outra vida, além desta vida, mas os detalhes só foram ditos por Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida, quem crê em mim, ainda que esteja morte viverá. E todo aquele que cré e vive em mim, não morrerá jamais (Jo 11, 25-26). No livro também é contada a história de Susana, esposa de Joaquim que foi deseja por dois juízes. Como ela não se entregou foi condenada. Deus despertou em Daniel o desejo de defendê-la, pois ela era temente a Deus. Descobriu-se que o testemunho dos juízes era falso e Susana foi salva.
29. Oseias
Oseias que dizer Deus salva. Foi um profeta desconcertante, que fala do amor, da ternura, da idolatria e da prostituição. Exerceu sua atividade em Israel do Norte que o profeta chama de “Efraim,” entre os anos 750 a 725 AC. Naquela época a Assíria tinha um grande império e o Imperador Teglat Falassar II começou a cobrar impostos, a ocupar cidade, a tomar terras produtivas. No reinado de Salmanasar V o Reino de Israel do Norte é escravizado pela Assíria em 722 AC. Nesta época de injustiças Oseias diz: “Javé abre um processo contra os moradores do país, pois não há mais fidelidade, nem amor, nem conhecimento de Deus no país. Há juramento falso e mentira, assassínio e roubo, adultério e violência, e a sangue derramado se ajunta sangue derramado (Os 4, 1-2). Diante de uma sociedade onde os reis e ricos escravizam os pobres, a religião era utilizada para dominar o povo, e onde eram cometidas as mais terríveis injustiças, Oseias vem denunciar tudo isso, mostrando que o projeto de amor de Deus era muito diferente do que estava acontecendo:”Lamenta que um espírito de prostituição esta dentro deles e por isso, não conhecem a Javé” (Os 5,4). A imagem da prostituição e do casamente predominam nesse livro bem como a questão do amor e da ternura. Prostituição porque o povo de afastou de Javé. Casamento porque lembra a fidelidade a Javé: “Eu me casei com você para sempre, me casei com você na justiça e no direito, no amor e na ternura; eu me casei com você na fidelidade e você conhecerá Javé” (Os 2, 18-21, 22). O casamento e a fidelidade que Deus quer com o seu povo é a vivência do amor, da ternura, do direito e da justiça; é nesse sentido que Deus quer casar-se e estabelecer uma aliança de amor para com o seu povo. Oseias critica os sacerdotes e cultos religiosos pois estes se esqueceram da lei do Seu Deus. Os sacerdotes manipulam as festas populares da colheita nas eiras (depósitos) com interesses de obter mais dinheiro e pessoas para formar seus exércitos e oprimir o povo. Oseias vai ressaltar que Deus não quer um culto sem sentido “pois eu quero amor e não sacrifícios, conhecimento de Deus mais do que holocaustos” (Os 6,6). Jesus se refere a essa passagem no evangelho de Mateus quando diz: “Aprendam, pois, o que significa: “Eu quero misericórdia e não sacrifício.” “Israel, converta-se para Javé seu Deus, pois você tropeçou na sua própria culpa” (Os 14,2). Deus sempre acolhe a todos, mesmo que tenham pecados graves e desde que queiram mudar de vida e seguir seus mandamentos.
30. Joel
Joel significa Javé é Deus. Joel viveu por volta do ano 400 ac. Para ele Israel (província da Assíria) engloba Judá e Jerusalém. Joel é muito lembrado na liturgia da quaresma que fala sobre penitência e o derramamento do Espírito Santo sobre todos os viventes (no Antigo Testamento fica claro o derramamento do Espírito Santo sobre reis, sacerdotes e profetas). No livro Joel descreve uma situação de crise e desespero. Gafanhotos invadem o país, mas, na verdade, eles representam o exército inimigo que devora as roças e a terra fica de luto “pois uma não poderosa e sem conta invadiu o meu país” (Joel 1,6). Joel prega uma conversão profunda do coração, não de ritos: “Voltem para mim fazendo jejum, cloro e lamentação, rasguem o coração e não as roupas, voltem para Javé, o Deus de vocês, pois ele é piedade e compaixão, lento para cólera e cheio de amor e se arrepende das ameaças (Jl 2, 12-13). A conversão só acontece se ela for do coração. Na profecia importante sobre a vinda do Espírito Santo ele diz: “Derramarei o meu Espírito sobre todos os videntes e eles se tornaram profetas…, então todo aquele que invocar o nome de Javé será salvo” (Jl 3, 1-2,5). Esta profecia se cumpre em At 2, 16-21 com a descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos em Pentecostes.
31. Amós
Amós é o primeiro profeta a deixar escritos no Antigo Testamento. Viveu por volta de 760 AC, no tempo do Rei Jeroboão II e é considerado o profeta da justiça social. Exerceu sua atividade no Reino do Norte (Israel) que era uma potência econômica e militar. Amós em suas denúncias critica a questão do direito e da justiça. Amós crítica que só os ricos venciam no tribunal apesar de crimes contra os pobres, subornos. Amós diz: Odeiem o mal e amem o bem, restabeleçam o direito nos tribunais (Am 5,15). Para falar dos erros de Israel Amós fala primeiro dos erros das nações vizinhas (Damasco, Filisteia, Tiro, Edom, Amon, Moab, Judá): escravidão, guerras injustas, escravidão, perseguição de irmãos, e no caso de Judá porque desprezaram a Lei de Javé e não guardaram seus mandamentos. Com relação a Israel o profeta diz: Assim diz Javé: por três crimes de Israel e pelo quarto, eu não vou perdoar: porque vendem o justo por dinheiro (levam em conta o dinheiro e não a inocência do justo) e o necessitado por um par de sandálias (entregar as sandálias significa entregar sua propriedade ao credor); pisoteiam os fracos no chão (perante a lei os fracos não tem defensores) e desviam o caminho dos pobres (não praticam o caminho da justiça, único instrumento dos pobres). Pai e filho dormem com a mesma jovem, profanando assim o meu santo nome (prostituição sagrada ao deus Baal). Diante de todos os altares eles se deitam sobre roupas penhoras (quem não podia pagar deixava a única túnica com o credor: falta de misericórdia) e no tempo de seu deus bebem o vinho de juros (elites usavam indevidamente os impostos. Tudo isto está em Am 2, 6,8. Nesse tempo a injustiça reinava em Israel. O culto praticado era para os interesses do rei e da elite, ou seja, uma exploração em nome de Deus. Amós deixa claro que o povo deve prestar culto a Deus, mas na vida e em seu dia a dia e não em santuários do rei. Diante de toda situação de injustiça Amós é necessário uma conversão ao verdadeiro Deus e a seu projeto. Toda conversão exige mudança. Em Amós 5, 14-15 está escrito: Procurem o bem e não o mal então vocês viverão. Quem sabe assim Javé, Deus dos exércitos estará com vocês. Odeiem o mal e amem o bem, restabeleçam o direito no tribunal. No Antigo Testamento havia um conceito de Dia de Javé que seria um dia de terror para os inimigos de Israel pois Israel era privilegiada por Deus em detrimento dos outros povos. Amós inverte este conceito radicalmente: Aí de dos que vivem suspirando pelo Dia de Javé! Como será para vocês o Dia de Javé? Será trevas e não luz” (Am 5,18). Um erro nosso é pensar que o Dia de Javé se refere ao fim do mundo. Quando existir amor, justiça, partilha, igualdade e fraternidade aí sim podemos afirmar que o reino de Deus ou Dia de Javé é atual e não escatológico. A última parte do livro trata das 5 visões do profeta: uma nuvem de gafanhotos que ia acabar com o verde da terra (Deus abranda o castigo); o fogo para fazer o julgamento (Deus abranda o castigo); Javé sobre um muro com um prumo ou estanho na mão (Deus vai destruir o poder político reinante e os santuários uma vez que a condenação da injustiça e da idolatria é irrevogável, para que o povo seja libertado); frutas maduras (chegada do fim para o povo de Israel); Bata no alto das colunas para fazer tremer os umbrais, quebre a cabeça de todos, que o resto matarei com espada (tudo foi destruído pela invasão da Assíria em 722).
32. Abdias
É o menor dos livros do Antigo Testamento com trechos antes do exilio da Babilônia (586 AC). A mensagem de Abdias fala da solidariedade, embora lembre da Lei de Talião (olho por olho, dente por dente). Descreve o castigo de Edom, que teve sua origem em Esaú, irmão de Jacó (Israel). Edom aproveitou da fraqueza de Jerusalém (586 a 548 AC) para invadir e atacar a Judéia num ato de crueldade e covardia. Por isso o profeta diz: Quem acabou com você foi a soberba do seu próprio coração. Por causa do morticínio e da violência praticada contra seu irmão Israel a vergonha cobrira você e você será eliminado (Ab 1, 3.10).
33. Jonas
É um livro mais sapiencial do que profético. Jonas significa povo Hebreu. É uma linda história que mostra que Deus não é exclusivo de um só povo, mas que a misericórdia é o amor. Provavelmente este livro foi escrito após o exilio (538 AC). Deus pede a Jonas que vá a Nínive, capital da Assíria e anuncie que a maldade dela chegou até mim. Jonas partiu, porém, fugindo de Deus. Toma um barco para Tarsis; o barco enfrenta uma tempestade. Jonas conta aos marinheiros que está fugindo de Deus e eles o jogam no mar. Jonas é engolido por uma baleia e fica no seu ventre 3 dias e três noites. Até Jesus se refere a este fato em Mt 12, 39-40: De fato, assim como Jonas passou três dias no ventre da baleia, assim também o Filho do Homem passará três dias e três noites no seio da terra. O que significa Baleia: Pode ter sido a providência de Deus para salvar Jonas; pode simbolizar o interior do profeta que encontra consigo mesmo e com Deus. Segundo Erich Fronn simboliza o estado de isolamento e encarceramento que a falta de amor e solidariedade lhe trouxe. Jonas prega em Nínive que a cidade seria destruída em quarenta dias e isso provoca uma grande conversão do rei e da população. Jonas se revolta por Deus ter perdoado Nínive e diz: Foi por isso que eu corri, tentando fugir para Tarsis, pois eu sabia que tu és um Deus compassivo e clemente, lento para a ira e cheio de amor (Jn 4,2). No final Jonas entende que Deus é amor e que quer a vida para todos.
34. Miquéias
Escreveu este livro por volta de 740 a 700 AC. Critica a guerra, principalmente as injustiças dos representantes do povo na política, na religião e na economia. Deixa claro há corrupção geral: Essa gente tem mãos habilidosas para praticar o mal; o príncipe exige, o juiz deixa se comprar, o grande mostra a sua ambição. E assim distorcem tudo (Mq 7,3). Miqueias critica os latifundiários e elite dominante: “Ai daqueles que deitados na cama, ficam planejando a injustiça e tramando o mal… (Mq 2, 1-2). Denuncia os chefes que devoram a carne do povo: Por acaso não é obrigação de vocês conhecer o direito? Inimigos do bem e amantes do mal, vocês são gentes que devoram a carne do meu povo (Mq 3, 1-3). O profeta afirma: Vou reduzir a Samaria a uma ruína no meio do campo… (Mq 1,6). Esta profecia se realizou em 722 AC com a destruição da Samaria pela Assíria. Outra profecia: Jerusalém se tornará um montão de ruínas e o monte do Templo será uma colina cheia de mato (Mq 3,12). Isto ocorreu em 586 AC quando a Babilônia destrói Jerusalém com Nabucodonosor. Uma outra profecia merece destaque: Mas você, Belém de Éfrata, tão pequena entre as principais cidades de Judá! É de você que sairá para mim aquele que há de ser o chefe de Israel. De pé governará com a própria força de Javé, com a majestade do nome de Javé, seu Deus. Ele próprio será a paz (Mq 5, 1-4). Quando Herodes pergunta onde Jesus deveria nascer eles respondem: Em Belém, na Judéia, porque assim está escrito por meio dos profetas (Mt 2,6). Miqueias resume sua mensagem em um dos mais lindos versículos do Antigo Testamento: Ó homem, já foi explicado o que é bom e o que Deus exige de você: praticar o direito, amar a misericórdia, caminhar humildemente com o seu Deus (Me 6,8).
35. Naum
Natural de Elcós, Judá e viveu entre 663-612 ac. Seu nome significa Javé conforta. Naum se refere aos políticos: os grandes poderosos do mundo não são eternos. Por mais que dominem e explorem, por mais que oprimam os pequenos, um dia eles serão destruídos. É o caso da Assíria, Nínive em 612 AC. Alguns de seus escritos são assustadores: Javé é um Deus ciumento e vingador. Javé é vingador e sabe enfurecer-se. Javé é lento para a ira e muito poderoso, mas não deixa ninguém sem castigo (Na 1, 2-3). Jesus no novo Testamento mostra exatamente o contrário: Deus é Pai, amor e misericórdia. Naum também escreve: Javé é bom. Refúgio seguro nas horas de aperto: conhece aqueles que nele confiam (Na 1,7). Deus está do lado dos pobres que buscam a paz: vejam sobre os montes os passos de um mensageiro que anuncia a paz (Na 2,1).
36. Habacuc
Exerceu sua missão de profeta por volta de 609 a 600 AC, na época do Rei Joaquim, em Judá. Período de instabilidade econômica. Judá pagava impostos ao Egito e o povo ainda sustentava o luxo da elite do país. A miséria resume a vida desse povo. Além disso o tribunal que deveria preservar a lei e o direito para fazer justiça também estrava corrompido pelos poderosos. O livro gira em torno do seguinte versículo: o justo viverá pela sua fidelidade (Hb 2,4). Justo é aquele que vive de acordo com a Palavra de Deus e é fiel aos seus ensinamentos. Injusto não é o maldoso, sem caráter e sim aquele que embora conhecendo a Deus e ao seu projeto, na vida prática age como se Deus não existisse. “Quem não é correto vai morrer, enquanto o justo viverá por sua fidelidade” (Hb 2,4). Jesus comenta muito em relação a justiça, como alicerce para que seja construído um mundo novo: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça (Mt 6,33) e Felizes (bem-aventurados) os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados (Mt 5,6). Habacuc cita cinco “Ais”: Ai daquele que acumula o que não é seu e se carrega de penhores; Ai de quem ajunta dinheiro injusto em sua casa; Ai de quem constrói com sangue uma cidade e com o crime funda uma capital; Ai daquele que embriaga seu próximo para lhe contemplar a nudez; Ai de quem fala a um pedaço de madeira: Acorde, e à pedra muda: desperte. Pode o ídolo ensinar. Também diz: Ainda que a figueira não brote e não haja fruto na parreira; ainda que a oliveira negue seu fruto e o campo não produza colheita; ainda que as ovelhas desapareçam do curral e não haja gado nos estábulos, eu me alegrarei em Javé e exultarei em Deus meu salvador (3, 17-18).
37. Sofonias
Viveu num período conturbado da política e de muita corrupção religiosa. Provavelmente exerceu sua profecia na época do Rei Josias em Judá por volta de 650 a 630 AC. Seu nome significa Deus escondeu. Sofonias é um estrangeiro, negro, algo inédito na história dos profetas. O Novo Testamento cita-o apenas uma vez: O Filho do Homem enviará os seus anjos, e eles recolherão todos os que levam os outros a pecar e a praticar o mal (Mt. 13,14). Fala: É amargo o Dia de Javé. Nesse dia o valente grita de medo. Será um dia de cólera, um dia de angústia e aflição, dia de devastação e ruína, dia de trevas e escuridão (So 1, 14-15). O Dia de Javé não é o fim do mundo, mas de transformação do povo de Deus e do fim da maldade, injustiça e idolatria. Sofonias afirma que o dinheiro e o poder também são ídolos. Para ele ainda resta uma esperança de salvação para os pobres da Terra: Procurem Javé, como todos os pobres da terra que obedecem aos seus mandamentos; procurem a justiça, procurem a pobreza. Quem sabe assim vocês acharão refúgio no dia da ira de Javé (So 2,3). Pobres são aqueles que depositam sua confiança no verdadeiro e único Deus e esperam pela justiça. São eles o “resto” que deve ser seguido rumo à salvação. Sofonias também profetiza o final do exilio na Babilônia quando o rei Ciro da Pérsia libertou Israel (538 AC) e deixa uma profecia de esperança: Deixarei em você um povo pobre e fraco, um resto de Israel que se refugiará no nome de Javé. Não praticarão mais a injustiça, nem contarão mentiras; não se encontrará mais em suas bocas uma língua mentirosa (So 3, 12,13).
38. Ageu
Após o exílio da Babilônia (586 a 538 AC) Ciro, rei da Pérsia decreta: Javé, o Deus do céu, entregou-me todos os reinos do mundo. Ele me encarregou de construir para ele um Tempo em Jerusalém, na terra de Judá. Quem de vocês provém do povo dele? Que o seu Deus esteja com você. Volte para Jerusalém para reconstruir o Tempo de Javé, o Deus de Israel (Esd 1, 2-3). Ageu escreveu este livro por volta de 520 AC. É um profeta que fala da reconstrução do templo. O profeta afirma: se o Templo for reconstruído, tudo vai melhorar, pois Deus habitará de novo no meio deles e espalhará as suas bênçãos. O templo era um local essencial e um ponto de união e oração, para que o povo procurasse viver de acordo com os ensinamentos de Deus: Coragem, povo da terra! É o que Javé diz. Mão à obra, pois eu estou com vocês. Neste lugar eu estabelecerei a paz, diz Javé (Ag 2, 4,9). Esta mensagem tem um ensinamento: mais que a reconstrução do tempo é importante a reconstrução do templo vivo que era o povo. Até Jesus se compara com o templo: Destruam esse templo e em três dias eu o reconstruirei. O Templo era seu corpo (Jo 2, 19-21). Ele morreu e em três dias ressuscitou. Jesus também profetiza pela destruição do Templo em 70 DC pelos romanos: Eu garanto a vocês: aqui não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído (Mt 24,2). São Paulo também fala sobre o templo: Vocês são templo de Deus e o Espírito Santo habita em vocês. Se alguém destrói o tempo de Deus, Deus o destruirá. (1Cor 3,16-17).
39. Zacarias
No livro temos dois Zacarias. De 1 a 8 quem fala é o profeta Zacarias, contemporâneo de Ageu (520 a 518 AC) que fala da reconstrução do tempo, da fé e da cultura do povo judeu. De 9 a 14 alguém escreveu esta parte e atribuiu a Zacarias por volta de 300 AC, quando acaba o império Persa e Alexandre Magno inicia o império helenista por volta de 333 AC. Nessa segunda parte existem muitas profecias messiânicas em que: o rei é pobre (Zc 9,9), o Bom Pastor (Zc 11, 4ss), como alguém que foi transpassado (Zc 12, 9ss) lembrando a paixão de Jesus. O livro começa com um apelo a conversão: Voltem para mim, oráculo de Javé dos exércitos, e eu voltarei para vocês (Zc 1,3). Vejam algumas passagens atribuídas a Jesus: Dance com alegria cidade de Sião; grite de alegria Jerusalém, pois agora o seu rei está chegando, justo e vitorioso. Ele é pobre, vem montado num jumento…, ele destruirá os carros de guerra de Efraim e os cavalos de Jerusalém, quebrará o arco de guerra. Anunciará paz a todas as nações, e o seu domínio irá de mar a mar, do rio Eufrates até os confins da terra (Zc 9, 9-10). Em Zacarias 11, 4-7 fala sobre o Bom Pastor. Jesus é o Bom Pastor (Jo 10, 14,15). No monte das Oliveiras Jesus diz aos seus discípulos: “Esta noite vocês todos vão ficar desorientados por causa de mim, porque a escritura diz: Ferirei o pastor e as ovelhas do rebanho se dispersarão” (Mt 26,31). Este trecho é citado em Zacarias 13,7.
40. Malaquias
Malaquias significa “Meu mensageiro.” Ele profetizou por volta de 480 a 450 AC, numa época em que o Templo já tinha sido reconstruído. Todavia muitos vão ao Templo e praticam um culto formalista e sem compromissos com Deus e com os irmãos. Malaquias mostra que cumpria a lei, só por cumprir, não tem sentido: Javé diz: Amo vocês (Ml 1,2), o povo também deveria amar a Deus e o seu próximo; mostra que o culto e a liturgia deveriam ser celebrados com a vida e com o coração. Malaquias trata de outros temas: fidelidade matrimonial, conversão e dízimo. Com relação ao matrimonio afirma que é uma união sagrada e que ninguém pode desfazer sem ir contra o projeto de Deus. Moisés permitiu o divórcio porem Jesus disse: Foi por causa da dureza do coração de vocês que Moisés escreveu esse mandamento. Mas, desde o início da criação, Deus os fez homem e mulher. Por isso o homem deixará seu pai e sua mãe e os dois serão uma só carne. Portanto o que Deus uniu, o homem não deve separar (Mc 10, 4-9). Malaquias profetiza quanto vinda de João Batista: Vejam, estou mandando o meu mensageiro para preparar o caminho a minha frende (Ml 3,1). Jesus diz: É João o que a Escritura diz: Eis que envio o meu mensageiro à tua frente, ele vai preparar o teu caminho diante de ti (Mt 11,10). Quanto ao dízimo diz: Tragam o dízimo completo para o cofre do tempo, para que haja alimento em meu tempo. Façam essa experiência comigo, diz Javé dos exércitos. Vocês hão de ver, então, se não abro as comportas do céu, se não derramo sobre vocês as minhas bênçãos de fartura (Ml 3,10).